sexta-feira, 8 de maio de 2015

Introduction

Olá!
Meu nome é Marcelo Rossi, tenho 45 anos, casado há 20 anos e pai há 16. Sou médico formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP (FMRP-USP), turma de 1994, CRM 82.430, com especialização em Pediatria e Infectologia Pediátrica, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Nesses 20 anos de exercício da Medicina eu vi e vivi bastante coisa. Uma delas é que o Pediatria é uma espécie ameaçada de extinção.

A cada ano a procura pela especialização em Pediatria vem caindo com velocidade preocupante. Há um decréscimo no número de pediatras, tanto em formação como em atividade, e um aumento no número de pediatras formados abandonando a especialidade para trabalharem em outras áreas da Medicina, como perícia médica, auditoria médica, administração hospitalar, especialidades alternativas (homeopatia, acupuntura, ortomolecular, etc.) ou mesmo mudando de profissão.

E os motivos para esta debandada são diversos porém óbvios: a Pediatria é a especialidade mais franciscana da Medicina: poucos pediatras conseguem viver bem com o que seus consultórios rendem; quase todos precisam ter mais um, dois, três... vínculos para fecharem seu orçamento.

Conheço pediatras famosos em nossa cidade e com excelente formação que trabalham em múltiplos locais e em diferentes cidades. Um amigo meu trabalha em 7 (sete) serviços diferentes espalhados em 4 (quatro) cidades num raio de mais de 200 Km, se deslocando de um lado pro outro e emendando atendimentos em consultório particular, posto de saúde, enfermarias, ambulatórios e plantões hospitalares, trabalhando mais de 120 (isso mesmo, cento e vinte!!!) horas semanais.

O Pediatra que não faz procedimentos cirúrgicos ganha apenas pelo número de consultas ou por hora de trabalho. Só pode ganhar mais se trabalhar mais. E os valores de cada vínculo são aviltantes.

Somam-se a isso os ambulatórios e plantões lotados, com crianças chorando, pais e parentes nervosos e reclamando (com toda a razão), emergências, casos graves, óbitos...

E quando o Pediatra chega em casa o celular não para.

Pediatra 36h: doze horas no consultório (no mínimo) e 24h no celular. E se desligar o celular de madrugada ou em algum momento raro de descanso ou de lazer com a família recebe reclamações das mães, pais, avós, tias... dos seus pacientes. Alguns são "Pediatra 40h", "Pediatra 48h" ou mais.

Poucos aguentam esse ritmo sem surtar, sem infartar, sem desenvolver gastrite e/ou hipertensão e/ou síndrome do pânico e/ou depressão...

#pediatriadepressão

Então muitos abandonam a Pediatria ou passam a dedicar a ela apenas uma parte do seu tempo diário de trabalho.

Vinte anos atrás nós tropeçávamos em pediatras pelas ruas. Hoje em dia nem as prefeituras nem os convênios conseguem profissionais suficientes para suprirem a demanda de atendimento e de plantões.

Chegamos ao absurdo de ouvir falar de hospitais de nossa cidade em que estudantes de Medicina, ainda não formados, estavam dando plantões em Pronto Atendimento (PA) de Pediatria, bem como a ocorrência de médicos de outras especialidades cobrindo vazios das escalas de plantão de Pediatria.

Estou falando de uma cidade com altíssimo IDH  (Índice de Desenvolvimento Humano), a "Califórnia Brasileira" (lembram dessa?!) e com quatro faculdades de Medicina atualmente (uma delas começou há 2 anos e, portanto, ainda não tem alunos formados), sendo uma delas a "Gloriosa", forma como a FMRP-USP é chamada por seus alunos e ex-alunos, que está entre as melhores escolas de Medicina do país.

Também deixei a Pediatria. Há 10 anos.

Mas foi por um motivo diferente de todos os que citei acima. Em 2004 fiquei paraplégico e precisei mudar de área dentro da Medicina.

Continuei atendendo uma ou outra criança, filhas de amigos ou parentes, ocasionalmente e, óbvio, de graça.

Mas percebi que algumas coisas estranhas estão acontecendo. Talvez para fazerem o tempo render alguns pediatras estão pulando fases, usando condutas desnecessárias, errando no diagnóstico e no tratamento de coisas simples, provavelmente não por desinformação mas para "facilitar" a consultar, agilizar o atendimento ou para tratar a ansiedade de algumas mães dando remédios para os filhos...

Isso me motivou a criar este blog. Na verdade será um vlog. Gravarei vídeos para poupar minhas mãos e meus ombros, já "baleados" pelo uso da cadeira de rodas.

SOU UM PEDIATRA ORTODOXO. Sempre fui adepto da Pediatria clássica, na qual o pediatra conhece seus pacientes, os pais ou responsáveis por seus pacientes, e que ouve tudo o que eles tem a falar e fala tudo o que eles precisam ouvir.

Portanto convido vocês a me acompanharem daqui em diante. Amanhã pretendo postar o primeiro vídeo, "começando do começo". Ok?

Abraços!



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